quinta-feira, 30 de maio de 2024

Os Democratas e a Ku Klux Klan


A Ku Klux Klan foi fundada em 1865, logo após o fim da Guerra Civil Americana, por seis veteranos confederados na pequena cidade de Pulaski, Tennessee. O ambiente do pós-guerra no sul dos Estados Unidos era de extrema tensão e desordem. A economia estava devastada, a infraestrutura destruída e a sociedade profundamente abalada pela emancipação dos escravos e a derrota dos estados confederados. A Klan surgiu como uma resposta violenta à era da Reconstrução, que foi um período durante o qual o governo federal, dominado pelo Partido Republicano, implementou uma série de políticas para integrar os afro-americanos recém-libertados na sociedade e garantir seus direitos civis. Essas políticas incluíam a 13ª, 14ª e 15ª Emendas à Constituição, que aboliram a escravidão, garantiram igualdade de proteção sob a lei e asseguraram o direito de voto para os homens afro-americanos, respectivamente. Os membros da KKK viam essas mudanças como uma ameaça à ordem social estabelecida e à supremacia branca. Utilizando táticas de terror e violência, incluindo linchamentos, queima de cruzes e intimidação, a Klan visava reprimir os afro-americanos e seus aliados republicanos. A violência era uma tentativa de restaurar a hierarquia racial anterior e minar os esforços de Reconstrução.

Durante esse período, o Partido Democrata era a força política dominante no sul. Após a Guerra Civil, muitos sulistas brancos, especialmente aqueles que tinham apoiado a Confederação, se alinharam com o Partido Democrata. Os democratas do sul eram geralmente hostis às políticas de Reconstrução promovidas pelos republicanos do norte, que eram vistas como uma imposição externa para reestruturar a sociedade sulista. Os democratas do sul, muitas vezes conhecidos como "redeemers" ou "Bourbon Democrats", tinham como objetivo "redimir" o sul da influência republicana e restaurar a supremacia branca. Embora o Partido Democrata como instituição não tenha fundado nem oficialmente apoiado a KKK, havia uma significativa sobreposição de membros entre a Klan e os democratas sulistas. Muitos líderes políticos democratas do sul simpatizavam com os objetivos da Klan e, em alguns casos, até usavam a violência da Klan para reforçar seu controle político.

A violência da Klan foi tão intensa que levou o Congresso dos Estados Unidos a aprovar os Atos de Execução (Enforcement Acts) em 1870 e 1871, que permitiam a intervenção federal contra organizações terroristas. O presidente Ulysses S. Grant usou esses atos para perseguir e desmantelar a Klan, resultando na primeira dissolução significativa da organização por volta de 1872. No entanto, a era da Reconstrução começou a declinar em meados da década de 1870. A "Compromisso de 1877" efetivamente encerrou a Reconstrução, retirando as tropas federais do sul e permitindo que os democratas "redeemers" retomassem o controle político. Esse retorno ao poder dos democratas sulistas levou ao estabelecimento das leis de Jim Crow, que institucionalizaram a segregação racial e a supressão dos direitos civis dos afro-americanos.

A KKK ressurgiu na década de 1910, inspirada pelo filme "O Nascimento de uma Nação" (1915), que glorificava a Klan como defensora da virtude branca. Esta "Segunda Klan" era mais nacional em escopo e menos concentrada exclusivamente no sul. Durante este período, a Klan se expandiu para incluir anti-catolicismo, anti-semitismo e nativismo, além de sua agenda original de supremacia branca. A segunda Klan alcançou seu auge na década de 1920, com milhões de membros em todo o país. Embora ainda houvesse uma sobreposição significativa com os democratas sulistas, a Klan também incluía membros do Partido Republicano e tinha influência política em muitos estados fora do sul.

A maior transformação ocorreu durante o movimento dos direitos civis nas décadas de 1950 e 1960. Durante esse período, o Partido Democrata, especialmente sob a liderança de figuras como o presidente Lyndon B. Johnson, começou a se alinhar mais fortemente com as causas dos direitos civis e da igualdade racial. A Lei dos Direitos Civis de 1964 e a Lei dos Direitos de Voto de 1965 foram marcos importantes nesse realinhamento.Essa mudança levou muitos democratas sulistas que se opunham aos direitos civis a migrarem para o Partido Republicano, um fenômeno conhecido como a "estratégia do sul". Ao mesmo tempo, o Partido Republicano, especialmente sob a liderança de Richard Nixon e sua "estratégia da lei e ordem", atraiu muitos eleitores brancos do sul descontentes com as mudanças sociais e políticas.

Hoje, a Ku Klux Klan é amplamente condenada por ambos os partidos políticos. Qualquer associação moderna com a Klan é vista como inaceitável e retrógrada. A Klan, embora ainda existindo em formas fragmentadas, não tem a mesma influência ou legitimidade que teve no passado.

                               

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