segunda-feira, 4 de março de 2024

A Ditadura Militar Brasileira Completa 60 anos

Por: Marcelo Alves de Lima

Em 1964, o Brasil era governado por João Goulart, importante quadro do PTB → a face mobilizadora sindical pelega, dentro da tradição trabalhista do Varguismo, engendrado no auge do Estado Novo (1937-1945).O governo de JANGO, nasceu de uma fórceps do 1º governo inquilino brasiliano de Jânio Quadros, que teve duração de 7 meses, até a data do Dia do Soldado →25 de Agosto de 1961, em decorrência da renúncia do próprio presidente.A sua renúncia com cheiro golpista, provocou uma forte crise político-militar, cujos ministros-generais, encabeçado pelo marechal Odylio Denys, ministro da guerra, reagiram ao episódio e resistiram por semanas, a posse do vice Goulart, que àquela altura, estava retornando da visita oficial de Estado a China de Mao Tse Tung, sucessor ideológico de Josef Stalin.
A Campanha Pela Legalidade de Leonel Brizola, teve um papel crucial, impedindo qualquer tentativa golpista.
João Goulart era criticado, tanto por conta de sua atuação como ministro do Trabalho no governo Vargas (1951-1954), ao elevar o salário mínimo para 100%, sendo também, próximo de figuras da esquerda brasileira, como Luís Carlos Prestes e Leonel Brizola, quanto pela sua imagem de Bon vivant, para o padrão moral daquela sociedade.Por outro lado, não poderíamos esquecer, o cenário da Guerra Fria, marcado pela rivalidade ideológica e geopolítica mundial, entre Capitalismo (EUA) e Socialismo (URSS).Há poucos anos, o mundo tinha assistido um quase apocalipse da Crise dos Mísseis, envolvendo a relação triangular: EUA →Cuba←URSS.
A administração Kennedy, irradiava forte devoção quase que medieval cruzadista, ao combate ao Comunismo, cujo irmão, Robert Kennedy, procurador-geral (equivalente a ministro da Justiça) tinha sido nos anos 50, assessor do senador MCarthy, o caçador de comunistas (conhecido pelo período marcathysta), que resultara em prisões e expulsão de figuras como Charles Chaplin.
Com a morte trágica de John Kennedy, o governo norte-americano foi assumido por Lyndon Jonhson, que a princípio, não tinha a mesma devoção e interesse no combate ao Comunismo, preocupando-se mais com as questões internas dos EUA; mas, por conta do agravamento da questão vietnamita, e os avanços geopolíticos do Comunismo na Ásia, inclusive tocada por Mao Tse Tung, Lyndon passou a olhar com mais atenção, os tentáculos do mundo marxista-leninista.Com esse espírito, os EUA manteve seus planos, desde a administração Kennedy, de não só combater o regime de Ho Chi Minh, como também evitar que o Brasil se tornasse um novo Vietnã.
É importante salientar, que nem mesmo o governo Vargas dos anos 50, agradava os interesses americanos, devido ao seu projeto nacionalista e em certa medida, anti-imperialista, tanto, que o Brasil se recusou a mandar homens para a crise militar das Coreias, pela bandeira da ONU.Suas ações políticas, dificultaram negociações com os EUA, inclusive realizadas anteriormente pelo governo Dutra, mais palatável aos EUA.
A UDN e a atuação personalíssima de Carlos Lacerda, deram o tom radical oposicionista ao governo Vargas, que não mais dispunha de instrumentos repressivos do Estado Novo.O suicídio de Vargas em 1954, havia retardado por 10 anos, o Golpe ou o Contra-golpe de 1964.
Só para se ter uma ideia, apenas dois governos conseguiram completar seus mandatos presidenciais na República Populista sob a égide da Constituição de 1946: Gaspar Dutra e JK.Em apenas um mandato, o Brasil assistiu a ascensão de três presidentes: Jânio Quadros (1961), Jango (1961-1964) e Castelo Branco (1964 /era para ter eleições em 1965 com JK eleito presidente// fez-se um puxadinho até 1967).Nesse processo, os EUA atuava pela desestabilização político-ideológica do governo Goulart, com propagandas e financiamento de políticos oposicionistas por meio do IBAD.
A imposição dos militares ao parlamentarismo no governo Goulart, serviu para não dar certo, pois ela tentava funcionar com base no governo de minoria; ela funcionou de forma razoável, com o primeiro-ministro Tancredo Neves, figura política experimentada nas crises anteriores, como a de Vargas, quando era ministro da Justiça.
Goulart por meio de plebiscito, retomou o regime presidencialista, aprofundando a crise política e econômica.Por desespero ou má influência de figuras radicais da esquerda brasileira, escondidas no PTB, ou clandestinamente atuantes nas marchas pró-governo, João Goulart tentou impor Estado de Sítio contra a oposição, por se sentir ameaçado pelo golpismo, depositando sua crença no dispositivo militar representado por Amaury Kryel, que depois se mostrou favorável aos militares ligados a Olímpio Mourão, que iniciou o movimento de derrubada do governo.
Consumado o Golpe, o Contra-golpe ou a Revolução de 1964, o Brasil e o mundo conheceram melhor, quem eram os militares brasileiros:

No Exército, não existia um pensamento monolítico, pelo contrário, eram comuns as correntezas ideológicas as mais variadas possíveis:

I) Grupo Sorbonne (Moderados) representados por Castelo Branco (marechal com formação francesa), Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo.Eles tinham como perspectiva, combater o Comunismo, a corrupção e entregar o poder aos civis, afim de preservar a democracia. Sua visão econômica, era liberal/monetarista.

II) Grupo da Linha-Dura (Radicais) representados pelo marechal Artur Costa e Silva e Garrastazu Médici.Eles tinham a visão de estender a Revolução por décadas, justificadas pela Guerra Fria (medo do Comunismo).Visão econômica: intervencionismo, positivismo e repressão da Revolução dentro da Revolução (AI-5).

III) Frotismo (Extrema-Direita) representado pelo general Sílvio Frota, que tentou dar um golpe contra Ernesto Geisel, a partir do ministério da Exército.Frota enxergava comunismo em todos os lugares, até mesmo no general Geisel.É da tradição da pedra filosofal da obra ORVIL, cuja escola o general Augusto Heleno pertence.

IV) Pennabotismo (Extrema-Direita) representado pelo Almirante Penna Botto, que mistura extremismo e teorias conspiratórias, basicamente o que vimos em doses homeopáticas dentro do Bolsonarismo.

Legado deixado pelos 21 anos de Regime Militar (1964-1985):

Inflação Alta;
Desigualdade Social acentuada;
Dívida Externa;
Fortalecimento de algumas oligarquias de Maluf a Sarney;
Modernização do patrimonialismo, do fisiologismo e do clientelismo, resultante também, do enfraquecimento partidário e programático (destruição de partidos ideológicos pelos Atos Institucionais e pela reforma partidária de Figueiredo).

Quanto ao papel da esquerda brasileira no período militar, foi minoritário e tão quanto autoritário, porque parte deles, foram para a luta armada, defendendo ditaduras ainda piores, em nome dos "proletários" 



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